quinta-feira, 21 de abril de 2016

7 discos (e meio) para entender o reinado de Roberto Carlos

Tiago Dias
Do UOL, em São Paulo
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    Roberto Carlos estrela o filme ''Roberto Carlos em Ritmo de Aventura'' (1968), de Roberto Farias.
    Roberto Carlos estrela o filme ''Roberto Carlos em Ritmo de Aventura'' (1968), de Roberto Farias.
Nunca houve um cantor no Brasil com tanto apelo e poder de fogo como Roberto Carlos. É como se os Beatles fossem condensados na figura de um franzino e sedutor artista, que, em plenos 75 anos, completados nesta terça-feira, ainda encanta uma legião de fãs.

Musicalmente, entretanto, Roberto foi perdendo a relevância com o passar do tempo. As apresentações repetidas e o repertório engessado o afastaram de um público mais jovem, que o via como um artista quase 'brega'. Mas nem sempre foi assim. 
Para fazer jus ao título de Rei, recordamos a fase em que a coroa de Roberto mais brilhou – do momento em que ele despontou como príncipe da Jovem Guarda, em 1966, até o flerte com a música romântica em 1972.
São sete joias, lançadas na sequência, e mais um bônus vindo dos anos 1980, para entender o reinado de Roberto Carlos.

Para ouvir o disco, clique na capa de cada álbum: 

 

A fase áurea do Rei (1966-1972)

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Roberto Carlos (1966) 

Roberto tinha acabado de estourar nacionalmente com o disco anterior "Jovem Guarda", mas é neste trabalho que seu reinado definitivamente começa. Toscamente gravado, o álbum traz aquela inocência dos anos 1950 em "Namoradinha de um Amigo Meu" (escrita por Roberto para Os Beatniks) e "Esqueça", mas dá um passo além. É um álbum de rock, criativo e enérgico, seja no riff que abre "Eu Te Darei o Céu" ou na bateria tribal em "Querem Acabar Comigo" -- uma das melhores composições da carreira, reflexo de todas as críticas que o atingiam na época. Em 1966, o cantor não tinha dimensão de seu próprio sucesso e passava os dias achando que seu momento iria passar. Destaque para o solo de sax em "O Gênio", para Renato e seus Blue Caps como banda de base e para o órgão de Lafayette que dá o tom de todo o disco.
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Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1967) 

Prestes a gravar seu primeiro filme (que dá nome ao álbum), Roberto ampliou sua cozinha musical. Escolheu um trio de metais e formou o RC-7. O que viria a ser a trilha sonora do longa, dirigido por Roberto Faria, o álbum só ganhou com a aquisição -- e também com a participação de dois maestros arranjadores contratados da CBS: José Pacheco Lins, o Pachequinho, e o maestro Alexandre Gnattali. "Eu Sou Terrível" e "Quando" são, até hoje, clássicos absolutos. A evolução segue com o baixo nervoso de Paulo César Barros em "Você Não Serve Pra Mim". A batida funky de "Quando" já indicava um novo caminho para Roberto: a jovem guarda era muito pouco para o artista.
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"O Inimitável" (1968) 

Primeiro disco do Roberto a ter uma produção realmente boa. Havia um investimento da gravadora, assim como nas letras, que deram um salto de qualidade. Saíram as bobinhas, como "O Feio", "O Gênio" e "O Sósia", e entraram temas mais românticos, como "Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo", marcando o início da grande obra de Roberto. O marco inaugural foi com "Se Você Pensa". Pedrada funkeada e barulhenta, a canção se tornou uma das favoritas de Caetano Veloso na época e fez a cabeça justamente dos artistas ditos "mais cabeça", sendo regravada por Elis e Gal Costa. Erasmo Carlos dizia na época: "Olha, nós somos legais mesmo!" Roberto também se destaca como intérprete em "O Tempo Vai Apagar" (Getúlio Cortes) e "E Não Vou Deixar Você Tão Só" (Antonio Marcos).
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"Roberto Carlos" (1969) 

Com o cabelo longo e pinta de artista hippie, com colares e pulseiras, Roberto queria se desvincular totalmente da Jovem Guarda e dar passos maiores. Sabia que podia contar com Tim Maia, seu amigo de infância, quando o mesmo lhe procurou para oferecer uma canção. Pediu o que queria: Black music. O velho Tião compôs na hora "Não Vou Ficar". O disco é dominado por canções de amor lancinantes, embebidas nessa referência, como "As Curvas da Estrada de Santos", "Sua Estupidez" e "Nada Vai Me Convencer". "O Diamante Cor de Rosa", que viria a ser tema de seu segundo filme, é a única instrumental na discografia de Roberto, com o cantor tocando gaita na faixa. A turnê do disco, dirigido por Ronaldo Bôscoli, foi o primeiro a ter a orquestra no palco, o que faria a fama do Rei nos anos vindouros.
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"Roberto Carlos" (1970) 

Roberto abre a década de 1970 no ápice da influência da Black music. Da balada "Ana" a funkeada "Se Eu Pudesse Voltar no Tempo", é um disco pulsante, com menos baladas. Até "Jesus Critso", sua primeira incursão em terreno espiritual, é um petardo no estilo. Influenciada pelo gospel americano e por musicais da época, como "Hair" e "Jesus Cristo Superstar", a canção causou polêmica justamente pelo seu gingado, o que incomodou os mais conservadores. "O Astronauta", diferente de tudo que viria a gravar, tem até vocalise ao fundo. A capa do disco mostra o cantor no palco do Canecão, em pose que se tornaria marca registrada: segurando o microfone com as mãos e erguendo o corpo pra trás
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"Roberto Carlos" (1971) 

Único disco sem a imagem de Roberto na capa. A ilustração, com os cabelos do artista ao vento, se tornou icônica em sua discografia. A produção é do tamanho de um artista internacional . A partir dali, gravaria sempre nos melhores estúdios do mundo. É o disco que marca sua transição para um repertório mais romântico, sem cair no brega. Pelo contrário. A atmosfera é bluseira, soando como o country rock feito na época por Bob Dylan e Harry Nilsson. Prova disso é "Como 2 e 2" (de Caetano Veloso), "Você Não Sabe o Que Vai Perder" e "Debaixo dos Caracóis". "Detalhes", um dos maiores clássicos da música brasileira, é citada até hoje pelo cantor como a sua canção preferida e teve introdução criada pelo maestro norte-americano Jimmy Wisner. Ao mesmo tempo, o disco encerrou a fase rock-soul com as faixas "Todos Estão Surdos" e "Eu só Tenho Caminho".
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"Roberto Carlos" (1972) 

Em um dos álbuns mais soturnos da carreira, Roberto reflete sobre o tempo. O tema está na regravação de "Acalanto", de Dorival Caymmi, em que revive a infância, e na confessional "O Divã", em que encara reminiscências, algo que já havia experimentado em "Traumas", do disco anterior. É a primeira vez em que ele fala sobre o acidente que o fez perder a perna ainda criança: "Relembro bem a festa, o apito/ e na multidão um grito/ o sangue no linho branco". Até este momento, Roberto se via como um hippie, e ele próprio observa seu próprio amadurecimento em "À Janela", sobre um jovem que está prestes a deixar a sair da casa dos pais. É o fim da fase mais juvenil de Roberto e o começo em que os especiais de fim de ano da Globo o moldariam criativamente.

Último grande disco

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"Roberto Carlos" (1981) 

Longe da fase áurea, este disco serve como bônus -- é, talvez, o último grande trabalho do cantor e um dos grandes lançados nos confusos anos 1980, década pela qual muitos medalhões não conseguiram passar sem um escorregão. A janela dos tempos hippies havia sido devidamente fechada, dando ainda mais espaço para a onda religiosa ("Ele Está Para Chegar") e discursos ecológicos ("As Baleias"). É deste álbum que surgiu "Emoções", uma das canções mais regravadas e tocadas pelo próprio. Em uma pegada levemente dançante, arranjos no estilo pop rock e metais, o disco cresce com as baladas eróticas "Tudo Para" e "Cama e Mesa", hit dos inferninhos e motéis.

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COMENTÁRIOS 84

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  1. Avatar de aldocosta13576055454

    aldocosta13576055454

    2 dias atrás
    Simplesmente, O REI.
    1. Avatar de ricklin

      ricklin

      ontem
      Foi o "Rei da juventude brasileira" nos anos 60s. Depois virou o "Rei do brega".
    2. Avatar de omsilva

      omsilva

      2 dias atrás
      Simplesmente o vassalo.
    3. Avatar de Jetson

      Jetson

      2 dias atrás
      "rei" do que??
  2. Avatar de internautaglobal

    internautaglobal

    2 dias atrás
    Brasileiro tem mania de quando não gosta de um artista diz que o cara é isso ou aquilo, sempre denegrindo. Muitos dos que picham um artista como o RC aqui nesse ambiente não sabem a diferença de um dó para um ré. E o cara está aí, na crista da onde desde quando muita gente que o picha nem nascido era. Eu não gosto de determinados tipos de música e nem por isso acho que os artistas são ruins. E sei a diferença entre um dó e um ré.Cada um na sua.
  3. Avatar de Assis100

    Assis100

    2 dias atrás
    Roberto é gênio, é simplicidade, é humildade. Não existe cantor que possui tantas canções lindas. Falar mal dele é para pessoas hipócritas. É apenas o rei!!!!
    1. Avatar de mhg53

      mhg53

      ontem
      Humildade?...estou morrendo de rir. O cara ganhou fama, sucesso graças ao público, ao povo que hoje não consegue chegar perto dele, cheio de esquema, segurança, manias...me deixe. Não ou hipócrita não, não falo mal, apenas a verdade e ela é que ele não é humilde, muito menos não é rei de nada, absolutamente nada.
    2. Avatar de ZapelidoSP

      ZapelidoSP

      ontem
      O cara é egocêntrico, oportunista, controlador. Censurou sua biografia com medo de revelar esses quais são na verdade seus reais talentos (OK, ele tem muito carisma tb eu admito). Musicalmente ele é mediano no máximo, e de humilde certamente não tem absolutamente NADA.
    3. Ver mais Respostas
  4. Avatar de Assis100

    Assis100

    2 dias atrás
    Roberto é gênio, é simplicidade, é humildade. Não existe cantor que possui tantas canções lindas. Falar mal dele é para pessoas hipócritas. É apenas o rei!!!!
  5. Avatar de Zedarrossa

    Zedarrossa

    2 dias atrás
    Tenho a discografia completa do Rei. Agora só está faltando uma reportagem do Uol sobre o Vice-Rei Erasmo Carlos!
    1. Avatar de rcnr

      rcnr

      ontem
      VOCE TEM O DISCO LOUCO POR VOCE
  6. Avatar de FIEL SEMPRE TIMÃO

    FIEL SEMPRE TIMÃO

    2 dias atrás
    Roberto, Tim e Raul os melhores de todos.
  7. Avatar de AntonioFausto

    AntonioFausto

    2 dias atrás
    Bem registra a reportagem. A relevância de Roberto, esteticamente falando, fora apenas no passado, até inícios da década de 70. Depois virou uma artista bobão, acomodado, que tem medo de arriscar, etc...
    1. Avatar de rcnr

      rcnr

      ontem
      TOMAS RECALKOL
  8. Avatar de calabar

    calabar

    2 dias atrás
    Genialidade?????? E Tom Jobim,Hermeto Pascoal,Egiberto Gismonti,Miles Davis,Gil e Bill Evans,Edu Lobo,Djvan,Tim Maia,os Caymmi,Beatles,João Gilberto e muitos outros são o que? Extraterrestres?????
    1. Avatar de robsoncps

      robsoncps

      ontem
      Credo, Cazuza, para por aí. Na década de 70 e até 80 roberto era imbatível. E foi a primeira vez que ouvi Happy de Michael Jackson, simplesmente fantástico desde criança.
    2. Avatar de Péricles1000

      Péricles1000

      ontem
      Não são extraterrestres... mas sãocantores de no mmáximo 3 músicas.... com excesso dos Beatles.
    3. Avatar de WildHorse

      WildHorse

      ontem
      Djavan é um brega sofisticado e verborrágico. Prefiro o RC, que pelo menos nunca se perdeu em "cabecismos" nas canções.
    4. Ver mais Respostas
  9. Avatar de minasflu

    minasflu

    2 dias atrás
    Este é o verdadeiro rei do Brasil e sabe, ao contrário de Chico Buarque, que não deve se intrometer onde não é chamado. Tenho a biografia original de Roberto escrita por Paulo Cesar Araujo e já vou avisando que não dou, não empresto e não a vendo por dinheiro nenhum.
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