Falta de aparelhos obriga brasileiros com câncer a interromper tratamento
Pacientes sofrem com a demora dos hospitais públicos que não terminam as reformas necessárias para receber novos equipamentos de radioterapia.
O Bom Dia Brasil vem acompanhando o sofrimento dos pacientes que tem câncer com a demora para que os hospitais públicos terminem as reformas necessárias para receber novos equipamentos de radioterapia.
Essas obras não acabam nunca e o tratamento dos pacientes com câncer vai sendo perigosamente adiado. E não para por aí: nossos repórteres descobriram que, mesmo nos estados onde há aparelhos, eles quebram e ficam sem conserto.
Com a saúde frágil, Dona Lenita tem pressa. Ela foi atrás de ajuda no Hospital de Base, só que o equipamento de radioterapia - o único de toda rede pública de Brasília - estava quebrado.
“Revolta, porque eu não quero morrer”, afirma.
Na fila de quem vai passar pela primeira consulta no Hospital de Base, os funcionários disseram que tem 716 pacientes à espera da radioterapia. E essa espera - acredite - é de um ano. O oposto do que diz uma lei federal de 2012. O paciente tem que iniciar o tratamento contra o câncer em 60 dias.
Mas por todo país, faltam máquinas de radioterapia. O ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde, seria uma máquina para cada 300 mil habitantes. Para isso, o Brasil precisaria do dobro de aparelhos.
Hoje, a gente tem 357 equipamentos, 269 nos hospitais que atendem pelo SUS. A equipe do Bom Dia Brasil encontrou no hospital da Universidade Estadual de Pernambuco equipamentos encaixotados há quase uma década.
“Se tivessem montados e funcionando você teria pelo menos 120 pacientes em tratamento ou mais”, diz Ernesto Henrique Roesler, da Sociedade Brasileira de Radioterapia de Pernambuco.
O Norte é a região com menos aparelhos. Rondônia e Acre, por exemplo, têm apenas uma máquina para atender toda a população. O Tocantins tem duas máquinas, mas nenhuma funciona. Uma está quebrada desde o fim de 2014 e a outra, novinha, nunca foi usada. Falta construir uma sala adequada para instalar o equipamento.
Enquanto isso, os 60 pacientes que seriam atendidos no Hospital Regional de Araguaína, no Norte do estado, têm que viajar por três horas para fazer tratamento no estado vizinho, Maranhão.
"É uma falta de vergonha aqui no Tocantins não tá fazendo radioterapia e sim em outro estado", lamenta a acompanhante Cleuciane Guimarães de Sousa.
No Nordeste, tem 57 aparelhos - o que representa apenas 30% da necessidade da região, segundo a Sociedade Brasileira de Radioterapia.
Em Sergipe, 300 pessoas estão na fila de espera para fazer o tratamento de radioterapia. O estado tem só uma máquina do tipo 3D que fica em um hospital. Só que o equipamento é antigo e vive quebrando.
“A moça me informou que tá quebrada e eu tô correndo atrás. É difícil para a gente. Não é fácil”, diz a vendedora Eliana Costa Rezende.
O filho da Claudiana tem câncer e já interrompeu o tratamento três vezes. “A médica disse que ele não pode parar o tratamento. Nem tá fazendo quimio por enquanto por causa da rádio, e a rádio quebrada. Aí é que não vai fazer mesmo”, conta Claudiana dos Santos.
Em outubro do ano passado, o Bom Dia Brasil mostrou que o governo federal tinha prometido, em 2012, instalar 80 máquinas para diminuir a fila da radioterapia em todo o país.
A entrega dependia de reformas nos hospitais para a instalação dos equipamentos. Só em quatro, as obras estavam adiantadas. Cinco meses depois, a equipe voltou a esses hospitais. Mas nenhuma máquina foi entregue ainda.
No hospital da Fundação Hospitalar Estadual do Acre, em Rio Branco, as obras para receber o equipamento estão paradas. No hospital da Fundação Assistencial da Paraíba, em Campina Grande, a obra está quase pronta, mas o aparelho ainda não chegou. No Hospital Dom Pedro de Alcântara, em Feira de Santana, na Bahia, a promessa ficou para abril.
Atraso também na Santa Casa de Misericórdia em Maceió. “Por conta de algumas interferências no local e o desafio de executar essa obra dentro do hospital, ela vai se prorrogar por mais uns três ou quatro meses”, explica o gestor de expansão da Santa Casa Maceió, Valdemir Ramos.
A cada dia sem tratamento, as chances de cura diminuem. “O paciente que tem um diagnóstico de câncer, uma doença maligna, deve ser tratado o mais rapidamente possível”, afirma o oncologista Márcio Almeida.
Para Dona Josefa, que já parou a radioterapia três vezes em Aracaju, é difícil de aceitar tanto descaso: “Estão brincando com a saúde da gente. Pelo amor de Deus! Não faça isso, não, que é triste”, se desespera a aposentada.
O Ministério da Saúde deu novos prazos para a conclusão das obras. Nos hospitais da Paraíba, Alagoas e Bahia, citados na reportagem, a entrega dos equipamentos, segundo o Ministério, "deverá ocorrer" em 2016 -- mas não informaram uma data específica.
Para o hospital do Acre e o de Brasília, o prazo ficou para 2017. O Tocantins disse que falta uma autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear para a instalação do equipamento de radioterapia. E em Pernambuco, onde uma máquina está na caixa há quase dez anos, a instalação agora foi prometida para o mês que vem.
Nota da redação: Na reportagem exibida no dia 7 de março, o Bom Dia Brasil afirmou que o Hospital Universitário de Brasília não tinha o equipamento de radioterapia. Na verdade, o equipamento está em falta no Hospital de Base. A informação foi corrigida às 8h20 do dia 7 de março.
Nota da redação: Na reportagem exibida no dia 7 de março, o Bom Dia Brasil afirmou que o Hospital Universitário de Brasília não tinha o equipamento de radioterapia. Na verdade, o equipamento está em falta no Hospital de Base. A informação foi corrigida às 8h20 do dia 7 de março.
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